Desde pequena ouço essa palavra 'aberração', nome
dado a tudo ou todo aquele que sai de uma dita normalidade, ou regra
estabelecida (sei lá por quem)..Fulano que gosta de ciclano, vai para o
inferno, Ciclana que não gosta de Beltrano também vai..Eles merecem apanhar,
apodrecer, morrer, afinal de contas são uma aberração.
Pois bem, sei que alguns já estão cansados de me
ouvir falar do DONNA, mas é por meio dele(o espetáculo) que tenho conseguido
vomitar tudo aquilo que me atravessa. Acabo de chegar de Blumenau, após passar
uma semana bem intensa de solitude, solidão, atravessamentos,
compartilhamentos, risos, choros, abraços, tropeços, amores e distanciamentos.
Lá me mostrei mais do que das outras vezes, sem recursos, me rasguei na frente
daqueles que escolheram ou acidentalmente estavam lá comigo!
Tenho encontrado nuances que vão do riso ao
silencio profundo, meu e do público.
Hoje ao acordar me deparo com a notícia de uma
violência sofrida por pessoas próximas a mim, e mais uma vez me vejo sem saber
o que fazer..mais uma vez sei que textões do facebook não vão mudar ou ajudar
ninguém. Mas precisamos falar sobre aberrações (eu preciso)
' Todos os dias o medo anda junto
anda junto nas mãos dadas
no abraço timido, nos olhos sempre atentos
O medo anda junto dentro carro, do onibus, na rua
Todos os dias se engole o choro
Todos os dias é preciso se fazer de forte
Todos os dias é preciso mentir, dizendo que não se
sente ou que não se é
Por segurança, por medo, por desespero, se cala, se
corre, se esconde
Todos os dias milhares apanham, são marginalizados,
perdem seus empregos, suas ditas famílias, amigos,
E isso eu tô falando dos que são privilegiados
...os que não o são morrem, por serem aberrações
Aberrações que não cabem em saltos altos e/ou que
os amam
Aberrações que usam saias e/ou que preferem
bermudas
Aberrações que cortam o cabelo e/ou que têm um
magahair maravilhoso
Aberrações que fogem a qualquer um desses
estereótipos citamos por mim e por você
Aberrações que acordam todos os dias e precisam ir
trabalhar ou estudar como eu e como você
Aberrações que tem conta pra pagar, filho pra
cuidar, e toda essa rotina de bom cidadão que nos é impostas todo santo dia.
Vestida com todos os clichês e tentativas de se
encaixar, as pessoas ainda dão risada dessa figura que brinca com as infinitas
possibilidades de ser, se identificam, se emocionam, se enfurecem, xingam,
amam, acolhem e repudiam.
Pras pessoas que me perguntam o por que faço esse
espetáculo, pras pessoas que assistiram...Continuarei fazendo nas ruas, nas
praças, nas escolas, em espaços alternativos ou grandes palcos, dentro do seu
banheiro, no conforto do seu quarto...Ele é o meu grito no meio desse silencio
todo, é a minha tentativa de ser Donna (mulher e proprietária) da própria vida,
por aqueles que não o podem ser!
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